Projeto tem beneficiado pequenas propriedades que tinham uma rentabilidade muito baixa com a venda de farinha
A relação com a terra é parte da história de vida de Orozina Josefa do Nascimento Teixeira, ou Zina, como prefere ser chamada. De uma maneira muito simpática, a produtora de mandioca me avisa que o sinal de internet é precário no assentamento PA Gameleira, em Flores de Goiás (GO), mas que ela responderá minhas perguntas.
Nascida na Bahia, ela conta que aos 7 anos já plantava, capinava e colhia alimentos para o sustento da família. “Aos 17 anos, fui para a Goiânia, em Goiás. Eu me casei, tive três filhos e morei 35 anos na cidade. Fiquei viúva e o destino me trouxe de volta para minha raiz, a roça”.
Dona Zina se casou novamente e, hoje, o marido é o presidente do assentamento. “Minha casa está sempre cheia de gente”, conta, animada.

Dona Zina. Foto: arquivo pessoal
O retorno financeiro com a venda de farinha de mandioca era muito pequeno, mas as coisas mudaram com a chegada de um projeto de cerveja a partir de mandioca.
“A parceria com a Ambev foi desenvolvida junto ao governo do estado no final de 2020. Temos uma legislação que incentiva a participação de cervejarias que utilizem mandioca do pequeno produtor na composição da cerveja. Aqui em Goiás já são duas: a Ambev e a Colombina”, conta o superintendente de Produção Rural Sustentável da Secretaria de Agricultura do estado, Donalvam Maia.

Primeiro caminhão com mandioca enviado para a produção de cerveja. Foto: divulgação
Goiás tem 152 mil propriedades rurais, sendo que a agricultura familiar representa 62,5% dessas fazendas. E o projeto está beneficiando comunidades que sofrem com o acesso restrito pelas estradas vicinais, falta de conectividade e até de energia elétrica.
“Os pequenos produtores de mandioca estão sendo os protagonistas do programa. O governo está trabalhando para democratizar o acesso à informação, oferecendo cursos, possibilitando o aumento de produtividade, trabalho e renda. Já instalamos 9 pontos de acesso a internet via satélite nos assentamentos”, conclui Donalvam Maia.
A cerveja de mandioca desenvolvida pela Ambev chama Esmera e foi criada em homenagem ao povo goiano. Segundo o coordenador agronômico da empresa, Fábio Ferreira, a cadeia produtiva da cerveja gera novas oportunidades de negócios para o setor agrícola, cervejeiro e pontos de venda.
“Até 2025, serão aproximadamente 2.500 pessoas envolvidas na produção da cerveja Esmera, que remete à garra do povo goiano”, diz o representante da Ambev. A princípio, a bebida só será comercializada em Goiás.

Representante da Ambed junto às produtoras de mandioca. Foto: arquivo pessoal
De acordo com a Ambev, criação da Esmera a partir da mandioca, ingrediente presente na história e cultura local, ajuda a equilibrar e trazer leveza e refrescância, sem perder o sabor tradicional de uma cerveja. “A inovação está diretamente ligada à agricultura. Por meio deste projeto, levamos aos produtores a oportunidade de comercialização, além do manejo adequado e a organização financeira”, complementa Fábio.
Dona Zina conta que foi uma das primeiras a experimentar a cerveja feita da mandioca que ela produz. “Nunca imaginei que seria possível! Eu provei, gostei e aprovei”, conta ela. Para as mulheres que trabalham na agricultura, a produtora deixa uma mensagem: “Lutem e não deixem de acreditar em dias melhores”.
*Esta matéria representa a opinião da autora, não tendo nenhuma relação com qualquer empresa.
Fonte: Canal Rural